O Yaripo, como é chamado o Pico da Neblina pelos Yanomami, é duplamente protegido por pertencer à Terra Indígena Yanomami e ao Parque Nacional do Pico da Neblina. Em 2017, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aprovou o Plano de Visitação Yaripo – Ecoturismo Yanomami – que regulariza atividades para fins turísticos na área. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União e está disponível aqui.
Agora, o Plano de Visitação tem de ser aprovado também pela Funai, etapa final para que os Yanomami possam começar a levar turistas ao ponto mais alto do Brasil.
A elaboração do Plano de Visitação YARIPO – ECOTURISMO YANOMAMI contou com ampla participação dos Yanomami da região de Maturacá em um processo desenvolvido nos últimos quatro anos. Foram dez etapas intensivas com participação média de 55 representantes das seis comunidades da região, na maioria jovens interessados em trabalhar com o ecoturismo, mas também lideranças tradicionais, diretores das associações locais AYRCA e Kumirayoma, professores e agentes de saúde, todos empenhados na construção de um plano que contemple os anseios dos Yanomami e esteja de acordo com as instruções normativas da FUNAI e ICMBio.
O tema ecoturismo também ganhou espaço nas últimas cinco assembleias anuais da AYRCA, maior instância de representatividade dos Yanomami da região e espaço legítimo para deliberar sobre projetos de interesse comunitário. O Plano foi apresentado e submetido ao crivo de um público médio de 500 pessoas por assembleia, garantindo um alto grau de participação.
O forte desejo dos Yanomami de tornar realidade o ecoturismo ao Yaripo como um empreendimento próprio conquistou o apoio de parceiros estratégicos que passaram a apoiar a construção do Plano. ICMBio, Funai, Exército, Sematur (Secretaria de Turismo do município de São Gabriel da Cachoeira) e ISA (Instituto Socioambiental) entraram na trilha aberta pelos Yanomami rumo ao Yaripo, acreditando no potencial da iniciativa como alternativa econômica sustentável para os Yanomami. Perceberam que a promoção do ecoturismo ao Yaripo está em sintonia com a missão de cada instituição, contribuindo com a proteção da fronteira e da sociobiodiversidade e promovendo o bem-estar dos Yanomami. O Yaripo tornou-se um aglutinador de bons interesses, onde a sobreposição de Terra Indígena e Unidade de Conservação significa dupla proteção, e o Plano de Visitação é o resultado de um processo colaborativo com responsabilidades compartilhadas entre os Yanomami e as instituições governamentais e não governamentais parceiras.
O Plano de Visitação foi entregue pelos Yanomami à FUNAI e ao ICMBio em julho de 2017, durante a assembleia da AYRCA realizada na comunidade de Maturacá. Em maio de 2018, saiu publicado no Diário Oficial da União a aprovação do Plano de Visitação por parte do ICMBio.
Após quatro anos de elaboração do Plano de Visitação os Yanomami estão ansiosos para guiar os primeiros turistas ao Yaripo. Atualmente estão construindo parcerias comerciais com operadoras de turismo que concordem em trabalhar cumprindo o que determina o Plano de Visitação. Os acordos comerciais resultantes deverão ser analisados e referendados pela FUNAI e ICMBio para serem executados. E, por fim, para iniciarem a visitação aguardam para os próximos meses a apro- vação pela FUNAI do seu Plano de Visitação. A expectativa dos Yanomami é que a visitação ao Yaripo tenha início no segundo semestre de 2019, com expedições experimentais.
A reabertura do turismo ao Yaripo irá possibilitar que pessoas do mundo todo possam conhecer os Yanomami e o lugar precioso onde vivem, aprendendo um pouco de sua cultura e desfrutando de sua hos- pitalidade. Acredita-se que a experiência proporcionada aos turistas será uma oportunidade para superar preconceitos e ampliar a aliança em defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente.
Aldeia Ariabú, 10 de abril de 2019.