Nosso jeito de educar

Uma das primeiras coisas que os não indígenas fizeram ao invadir nossas terras foi impor seus conhecimentos e o seu jeito de ensinar. Percebendo que nós não tínhamos escolas, eles pensaram que também não tínhamos educação. Mas a verdade é que nós, Yanomami e Ye’kwana, nunca precisamos de escolas no passado, porque sempre tivemos outras formas de aprender e de ensinar.

As primeiras escolas que chegaram em nossas comunidades queriam nos transformar em brancos: ensinar o português; catequizar; proibir nossas línguas.

As primeiras escolas na região de Maturacá e nas comunidades do Rio Marauiá foram os internatos religiosos: nós ficávamos presos, aprendendo a virar não indígena. Éramos proibidos de falar as nossas línguas e comer nossos alimentos.

Com muita luta conseguimos colocar na Constituição de 1988 que a nossa maneira de viver deveria ser respeitada. A Constituição, junto com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, reconheceu pela primeira vez a chamada escola diferenciada. A partir daí começamos a participar das decisões sobre como queremos que sejam nossas escolas e quais conhecimentos devem ser ensinados.

A escola indígena não pode ser uma cópia da escola do não indígena: nós, Yanomami e Ye’kwana, temos uma forma de ensinar diferente, nossos conhecimentos são diferentes e também os momentos em que ensinamos e aprendemos. A palavra-chave para termos uma boa escola indígena é autonomia; assim, podemos criar nossos próprios modelos de escola.

Hoje em dia as escolas indígenas são importantes para aprendermos o português e a matemática, ferramentas para lutarmos pelos nossos direitos e para não sermos enganados pelos não indígenas. Mas nas nossas escolas nós também estamos estudando coisas importantes de nossas culturas, como os conhecimentos dos mais antigos sobre as plantas e os animais.

A escola deve ser entendida como uma casa de conhecimento e não como uma casa feia perto do posto de saúde. Nós, Yanomami e Ye’kwana, entendemos que podemos ter aulas em diferentes lugares e de diferentes maneiras. Uma caçada, uma pescaria, uma saída para a floresta para coletar bacaba pode ser nossa escola. Nós todos, com a ajuda dos professores indígenas das nossas comunidades, devemos transformar as escolas em lugares em que podemos aprender as culturas yanomami e ye’kwana, mas também as ferramentas dos não indígenas, para conversar com eles.

Hoje nossas escolas são casas de conhecimento ou somente fonte de salários? Os professores que escolhemos para as nossas comunidades estão ensinando os nossos jovens a escrever em nossas línguas? Nossas crianças estão aprendendo a usar as ferramentas dos nãos indígenas para proteger nossos direitos? Essas perguntas são muito importantes, porque a escola indígena que temos hoje é fruto de muitos anos de luta e precisamos proteger essa conquista.

PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

As principais propostas para fortalecer a nossa educação escolar são:

• Formação continuada e específica para os nossos professores, com a inclusão de nossos saberes nos currículos escolares;

• Apoio para a produção e divulgação de materiais didáticos próprios, diferenciados e de qualidade.

• Melhorias no processo seletivo, para que eles tenham maior validade e não sejam tão burocráticos, para não perdermos tanto tempo na cidade;

• Ampliação do número de escolas na tiy; • Reforma e melhoria das escolas que já existem.

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